Opinião
Vladimir Herzog: O catalizador para a redemocratização do Brasil
Opinião
Por Jean Borsatti
Vladimir Herzog nasceu em 27 de junho de 1937 na cidade de Osijek, na antiga Iugoslávia, hoje a quarta maior cidade da Croácia. Eu poderia muito bem lhes contar a história deste grande jornalista, desde sua infância, mas o objetivo deste texto é mostrar exatamente a parte que interessa para a história brasileira.
Não se sabe ao certo em que ano Vladimir chegou ao Brasil, porém sabe-se que sua família fugiu primeiramente para a Itália em 1941 para fugir do antissemitismo praticado pelo governo croata que até então era controlado pela Alemanha Nazista, posteriormente Herzog e sua família vieram para o Brasil.
Em 1959 Vladirmir Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), foi extamente nesta época que o jornalista passou a assinar Vladimir Herzog, já que seu nome verdadeiro era “Vlado”, Herzog acreditava que seu nome de batismo era um tanto quanto exótico para os brasileiros e por este motivo decidiu dar uma pequena modificada.
Vladimir dedicou sua vida ao jornalismo, trabalhou em importantes veículos de imprensa no Brasil, além de sua pequena passagem de três anos pela famosa BBC de Londres.
Na década de 1970 o jornalista foi incumbido de assumir a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, uma emissora que pertence ao Estado de São Paulo, nesta mesma década foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Arte (ECA) da USP. Vladimir Herzog era sem dúvidas um profissional completo, acreditem se quiserem, Vladimir também atuou como dramaturgo em peças de teatro, quando se envolveu com intelectuais do teatro.
Não demorou muito para Vladimir ser vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), era um ferrenho crítico da ditadura militar, fato que o fez ingressar no movimento de resistência contra o regime.
Naturalizado brasileiro, Herzog tinha uma paixão pela fotografia e pelo cinema, inclusive segundo sua biografia, morreu sem realizar seu sonho de se tornar cineasta.
Em 1974 o Gen. Hernesto Geisel tomou posse da Presidência da República com aquele velho discurso de abertura democrática, assim como nos dias de hoje, o perigo comunista era utilizado para legitimar as atrocidades cometidas pelo regime. Neste período os militares já não tinham mais a popularidade que conquistaram em 1964 o que possibilitou a tomada de poder, os anseios por democracia, o repúdio a censura e os pedidos por justiça para aqueles que foram torturados e mortos pelos militares, assim como uma maior participação de civis no governo eram pautas constantes e cada vez maiores de toda a população.
A verdade é que os chamados linha dura (termo utilizado para designar aqueles militares que defendiam a censura e o totalitarismo) já estavam se sentindo ameaçados com as fortes ondas de protestos que começavam a se levantar, em outras palavras, a repressão continuava forte e aquele que se atrevesse a confrontar o regime se tornaria mais uma vitima.
Já em 1975 Vladimir Herzog que já trabalhava no setor de jornalismo da TV Cultura, recebeu a informação através do jornalista Paulo Markun que seria preso acusado de intervenção, Vladimir, como bom e corajoso jornalista não fugiu, decidiu se apresentar voluntariamente ao temido DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna).
No dia 24 de outubro daquele mesmo ano, após enfrentar uma grande campanha contra sua gestão na TV Cultura encabeçada pelos deputados estaduais paulistas Wadih Helu e Jose Maria Marin pertencentes ao partido da ditadura militar, ARENA, agentes do II Exército convocaram Vladimir Herzog para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o PCB, partido que atuava na ilegalidade graças a ações do regime militar para combater os chamados “transgressores”. No dia 25, Herzog se dirigiu até o DOI-CODI, onde ficou preso juntamente com outros dois jornalistas, George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo Oswaldo Konder. Em seu depoimento, Vladimir negou qualquer ligação com o Parido Comunista Brasileiro, este foi o estopim para a tortura contra o jornalista, os outros dois colegas de Vlado foram levados até um corredor onde ouviram a ordem para que a máquina de choques fosse trazida até a sala, a partir daí, começou a tortura contra Herzog, segundo relatos, um rádio com som alto foi utilizado para abafar os gritos de Herzog durante a sessão de tortura. Posteriormente, Konder foi obrigado a assinar um documento no qual afirmava que o mesmo teria aliciado Vladimir para ingressar no PCB, além de outras pessoas que supostamente integrariam o partido. Após este momento o jornalista Konder também foi encaminhado para a sala de tortura, foi a última vez que Vladimir Herzog foi visto com vida.
Ainda no dia 25 de outubro o Serviço Nacional de Informações recebeu uma mensagem em seu destacamento na capital que afirmava que naquele dia, cerca de 15h, o jornalista Vladimir Herzog cometeu suicídio em sua cela no DOI-CODI, a covardia dos militares linha dura da época não se limitavam apenas na tortura de pessoas incapazes de se defender, mas também era muito comum que os mesmos alegassem que suas vítimas de tortura teriam tirado a própria vida, suicídio, fuga e atropelamento eram as principais desculpas utilizadas pelo regime para justificar as mortes de opositores.
Outro fato que levantou suspeitas contra a versão oficial apresentada pelo regime militar foi o fato de que fotos mostravam os pés de Herzog estavam tocando o chão e com os joelhos flexionados, o que tornaria a versão do suicídio impossível.Segundo o Laudo de Encontro de Cadáver expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog teria se enforcado com uma tira de pano, mais precisamente a cinta do macacão que os presos usavam, amarrado a uma grade a 1,63 metros de altura, o problema era que o macacão que os presos usavam não tinham cinto como descrito no laudo, este acessório era retirado juntamente com os cadarços dos sapatos, fato que era praxe naquele órgão de repressão.
Por ser judeu, Vladimir seria sepultado em local separado, assim como manda a tradição judaica, porém quando seu corpo estava sendo preparado para o sepultamento, o rabino Henry Sobel viu as marcas de tortura pelo corpo do jornalista, segundo o relato, haviam marcas de estrangulamento assim como outras marcas de tortura, o rabino não teve dúvidas de que aquilo na verdade se tratava de um homicídio e não de suicídio, por este motivo o líder religioso decidiu que Herzog seria enterrado juntamente com os demais no Cemitério Israelita do Butantã, o que na época foi considerado fato suficiente para desmentir publicamente a versão oficial.
Anos mais tarde, mais precisamente em 1978 o juiz federal Marcio Moraes em uma sentença histórica, responsabilizou o governo federal pelo assassinato do jornalista, o juiz solicitou ainda que o governo apurasse a sua autoria no homicídio, porém, como esperado absolutamente nada foi feito.
Trinta e quatro anos depois, em 2012 a família de Herzog conseguiu na justiça que seu atestado de óbito fosse alterado, a partir daí passou a constar que a morte do jornalista se deu graças a lesões e maus-tratos sofridos nas dependências do II Exército – SP (DOI-CODI), em 2018 a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do homicídio de Vladimir Herzog.
Não há dúvidas de que o assassinato de Herzog foi o catalizador para a redemocratização brasileira, graças a covardia do regime militar uma verdadeira onda de protestos, principalmente da imprensa tomou não apenas o Brasil, mas em todo o mundo, o que impulsionou o movimento pelo fim da ditadura militar que se estendeu até 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves que após 24 anos de tortura, censura e opressão foi o primeiro civil a se eleger ao cargo, porém Tancredo Neves não chegou a assumir o cargo, já que veio a falecer naquele mesmo ano, quem assumiu em seu lugar foi seu vice José Sarney.
Histórias como a de Herzog jamais deverão ser esquecidas, já que este caso representa muito bem o que foi aquele período, que assim como Herzog, jamais deve ser esquecido, mas não para ser exaltado, e sim para que lembremos o flagelo que o regime militar foi para todos os brasileiros.
Em memória de Vladimir Herzog (27 de junho de 1937 – 25 de outubro de 1975)
Opinião
A felicidade incomoda as pessoas e o livre arbítrio de ser feliz!
*Por -Soraya Medeiros
A felicidade, essa sensação tão desejada e ao mesmo tempo tão subjetiva, nem sempre é vista com bons olhos por todos. Muitos já devem ter sentido aquele olhar enviesado ou ouvido um comentário irônico ao compartilhar momentos de alegria. Essa reação, embora desconcertante, revela algo profundo sobre as dinâmicas humanas: a felicidade incomoda.
Mas por quê? A resposta não é simples. Para alguns, a felicidade alheia pode servir como um espelho que reflete insatisfações pessoais, desafios não superados ou sonhos abandonados. Para outros, ela pode soar como uma afronta, como se a alegria do outro fosse um lembrete de algo que lhes falta. Esse desconforto, muitas vezes mascarado por críticas ou indiferença, evidencia o quanto a nossa própria percepção da felicidade está profundamente conectada ao ambiente em que vivemos e às relações que construímos.
No entanto, ser feliz é uma escolha. E é justamente essa decisão que pode gerar um certo estranhamento. O livre arbítrio de ser feliz, muitas vezes, exige coragem. Coragem para romper padrões, desafiar expectativas externas e, acima de tudo, assumir a responsabilidade pelas próprias emoções. Em uma sociedade que frequentemente valoriza a luta e o sofrimento como indicadores de “sucesso” ou “valor”, escolher a felicidade pode ser interpretado como um ato de rebeldia.
Essa rebeldia, no entanto, é essencial para quem deseja viver plenamente. A felicidade não deve ser encarada como um privilégio, mas como um direito intrínseco de cada ser humano. Exercitar esse direito passa por compreender que ninguém é responsável pela nossa alegria além de nós mesmos. O que os outros pensam ou sentem diante da nossa felicidade é um reflexo do mundo interno deles, não do nosso.
Entender isso é libertador. Significa que podemos seguir em frente, confiantes na escolha de sermos felizes, independentemente das reações alheias. Significa, também, que podemos exercer empatia com aqueles que não conseguem celebrar a nossa alegria, reconhecendo que eles talvez estejam em um momento de luta pessoal.
Por outro lado, é importante considerar como diferentes culturas percebem e valorizam a felicidade. Em algumas sociedades, a felicidade é vista como um objetivo coletivo, em que a harmonia social e o bem-estar da comunidade têm um papel central. Em outras, ela é mais individualista, relacionada à realização pessoal e à conquista de objetivos próprios. Essas visões distintas influenciam as reações das pessoas diante da alegria alheia. Por exemplo, em culturas onde o coletivo é priorizado, a felicidade individual pode ser interpretada como egoísta ou desconsiderada se não beneficiar o grupo. Já em contextos mais individualistas, a felicidade do outro pode ser vista como inspiração ou, em alguns casos, como competição.
Essa diversidade cultural nos convida a refletir sobre como nossa própria percepção da felicidade foi moldada e como podemos ampliar nossa visão para compreender diferentes perspectivas. Ao reconhecermos essas diferenças, nos tornamos mais tolerantes e empáticos, tanto com nossas próprias escolhas quanto com as dos outros. Ademais, isso nos ajuda a perceber que o que incomoda em uma cultura pode ser celebrado em outra, enriquecendo nossa compreensão sobre o impacto cultural nas experiências humanas.
Porém, o livre arbítrio de ser feliz também vem acompanhado de responsabilidade. Ser feliz é um ato individual, mas que ecoa coletivamente. Quando cultivamos a felicidade de forma genuína e respeitosa, inspiramos aqueles ao nosso redor a fazerem o mesmo. Essa é uma das mais belas manifestações do poder humano: a capacidade de transformar o ambiente, não pela imposição, mas pelo exemplo.
Portanto, não permita que o desconforto alheio sufoque a sua alegria. Celebre suas conquistas, viva seus momentos de paz e permita-se ser feliz – não como um desafio ao mundo, mas como um compromisso consigo mesmo. Afinal, a verdadeira liberdade está em abraçar o próprio caminho, independentemente de como ele é percebido pelos outros. E ser feliz é, sem dúvida, uma das escolhas mais poderosas que podemos fazer.
Soraya Medeiros é jornalista com mais de 22 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier.
-
Política4 dias atrás
Permanência dos radares: Abilio Brunini vai remodelar os radares instalados
-
Variedades1 dia atrás
Sister Camila é detonada ao fazer “xixi” na cozinha após festa
-
Polícia9 horas atrás
Sobrinho mata o próprio tio a tiro em um bar em Santo Antônio de Leverger
-
Polícia1 dia atrás
Polícia faz mudanças de titulares nas delegacias para combater o crime organizado
-
Polícia4 dias atrás
Sob efeito de bebidas, motociclista passa debaixo de trator em plena avenida
-
Variedades3 dias atrás
Resgatado por advogado com crateras na barriga, cachorro permanece internado em Cuiabá
-
Esporte2 dias atrás
Dutrinha é revitalizado após concessão ao Mixto Esporte Clube
-
Política2 dias atrás
“Até final de 2025, teremos 100% da BR-163 de Cuiabá a Sinop em obras”, afirma Mauro Mendes
Você precisa estar logado para postar um comentário Login