Opinião
Terapia também é “coisa de homem”
Opinião

Cristiane Amaral
Apesar de terem sido ensinados desde muito pequenos que “homem tem que ser forte”, “que homem não chora” ou “que homem não tem medo de nada”, os homens também precisam de ajuda psicoterapêutica para lidar com suas questões, que podem envolver mudanças externas ou internas, traumas e até transtornos emocionais, como depressão e ansiedade.
Uma prova de que esse cenário precisa mudar é que os homens morrem mais que as mulheres em quase todos os grupos de idade, exceto a partir dos 80 anos (IBGE, 2022). O maior número de óbitos acontece entre os 15 e os 34 anos, em razão de acidentes de trânsito, homicídios, suicídios e outras motivações violentas. O uso abusivo de substâncias (álcool, cigarros e remédios) é frequente entre eles.
Outro ponto delicado é que a população masculina concentra as taxas mais altas de suicídio, com risco 3,8 vezes maior do que as mulheres (Ministério da Saúde, 2021). No Brasil, houve um aumento de 35% dos casos de suicídio, cerca de 80% advindos de um quadro de depressão (OMS, 2024). Essa “epidemia invisível” de mortes, grande parte delas violenta, não pode continuar sendo normalizada.
É importante reverter a construção social que veste nos homens de uma armadura firme, sólida e indestrutível, como se não tivessem emoções e vulnerabilidades, impedindo-os de expressar seus medos e angústias. A campanha do Novembro Azul chama atenção justamente para a importância da manutenção da saúde física e mental dos homens, que afeta não só suas famílias, como toda a sociedade.
Na rotina de atendimentos, observo que há diferenças na externalização de sintomas de doenças psíquicas entre mulheres e homens. Eles, por exemplo, costumam demonstrar mais irritabilidade e raiva quando estão deprimidos ou ansiosos, sentimentos que normalmente mascaram tristeza ou medo.
Eles também têm mais comportamentos de risco, tais como direção perigosa, abuso de substâncias, jogos de azar ou mesmo trabalhar demais para lidar com emoções negativas, além de estarem mais propensos a atitudes de isolamento, inclusive de forma mais abrupta, sem explicar os motivos.
Outro sinal de alerta: queixas físicas, entre elas, dores no corpo, enxaquecas, palpitações ou problemas digestivos. Geralmente, os sintomas físicos costumam ser tratados como problemas “isolados” e não relacionados à saúde mental, dificultando o diagnóstico. Eles também são mais propensos a negar que estão deprimidos ou ansiosos, minimizar sintomas ou tentar resolvê-los sozinhos.
Quanto se trata de comportamentos extremos, infelizmente, por um conjunto de fatores, os homens estão mais suscetíveis a chegar ao estágio crítico da depressão, e com maior risco de suicídio em comparação às mulheres, sobretudo porque tendem a usar métodos mais letais.
Eles ainda podem manifestar desesperança por meio de comportamentos autodestrutivos, a exemplo de situações de violência ou negligência com a própria saúde. Em relação ao trabalho e ao papel social, pode haver queda no desempenho, desinteresse em projetos ou obrigações e medo de fracassar ou de não ser “suficiente”.
A partir desse contexto, destaco a importância da prevenção e da identificação precoce de sintomas. Uma vez diagnosticada a depressão ou outra doença psíquico-emocional, já existem tratamentos farmacológicos e psicoterapêuticos eficazes. Ou seja, os homens não precisam mais lidar sozinhos, sem suporte especializado, com emoções difíceis.
Penso que essa transformação social e de saúde pública se torna viável e possível quando rompemos com a lógica da concorrência e do individualismo para fortalecer, cada vez mais, o sentimento de cooperação, comunidade, solidariedade e afeto, começando em casa, com mulheres e filhos, estendendo-se ao trabalho e demais espaços sociais.
Tem uma frase do educador Paulo Freire que nos convida a uma reflexão profunda sobre esse processo: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. O objetivo, portanto, é trabalharmos juntos (homens e mulheres) para reverter esse quadro de adoecimento. Homens, deem o primeiro passo, façam psicoterapia!
Cristiane Amaral, psicóloga com formação em transtorno de ansiedade e depressão no Instituto Albert Einstein.

Opinião
Consciência encarnada: o corpo que sente e sabe
A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento

A consciência não é vapor etéreo nem labareda trancada atrás da testa. Não é sopro metafísico preso a uma ideia. A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento. É carne que sente, é sangue que corre com pressa, é pulmão que se enche de mundo. Somos consciência porque somos carne que pulsa, pele que pressente, vísceras que reagem ao que as palavras não conseguem nomear. Cada sensação é um esboço de saber. Cada calafrio, uma forma de inteligência em ato.
A consciência não mora só na mente. Ela dança nas mãos que tocam o outro, se acende na pele que se arrepia, se esconde no estômago que revira diante do medo. A consciência é matéria sensível: pulsa no que há de mais sutil — e mais bruto — em nós.
Por séculos, fomos ensinados a separar o pensamento da carne, como se fosse possível flutuar acima da nossa própria biologia. Mas a ciência e a sensibilidade — quando caminham juntas — desmentem esse corte. O cérebro não pensa sozinho: ele conversa com o coração, com a pele, com os intestinos. Ele só é mente porque é corpo inteiro. Somos um campo de forças, um feixe de reações entre o que sentimos por dentro e o que o mundo nos impõe por fora.
Sentir dor não é apenas disparo neurológico — é a consciência gritando em forma de músculo. Um insight não é raio que cai do céu — é sintonia entre respiração e pensamento. O corpo é um oráculo antigo: pressente antes que a mente formule, reage antes que o juízo chegue. Ele carrega a memória dos silêncios e o eco do que um dia foi vivido.
Por isso, falar de consciência é falar do corpo que sonha e sofre, do gesto que escapa, do arrepio que antecipa. É falar de sangue e sombra, de suor e silêncio, de tudo aquilo que nos atravessa antes da linguagem.
Redescobrir a consciência encarnada é um gesto de reintegração. É dar à carne o que foi tomado pela abstração. É reencantar o corpo com o direito de sentir e o dever de saber. Pensar, afinal, é também transpirar, mastigar, andar, cochilar, hesitar. Somos seres pensantes porque somos seres que tremem, que tocam, que temem, que amam.
A consciência não é uma torre de marfim flutuando acima da vida. Ela é a própria vida — quando habitada por dentro.
*Luiz Hugo Queiroz é jornalista, especialista em Marketing Político, estudioso em Inteligência Artificial e amante da cultura, o levando a dirigir a maior mostra de arquitetura, arte, design, interiores e paisagismo das américas em Mato Grosso, a CASACOR.
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