VÁRZEA GRANDE
Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

Opinião

Setembro Amarelo e os riscos da superexposição on-line

Publicado em

Opinião

Foto: Cristiane Amaral
Por: Cristiane Amaral
Completamos neste ano 9 anos da campanha Setembro Amarelo com muitos avanços e desafios na área da saúde mental no Brasil. Além das questões socioeconômicas e ambientais, que afetam diretamente como nos sentimos e comportamos, teremos que descobrir urgentemente um equilíbrio saudável entre vida real e virtual. Não só para nós, como para os nossos filhos.
O Brasil é o 2° país em que os usuários passam mais tempo on-line no mundo. Conforme o Relatório Global Digital 2024, a população brasileira passa mais de 9 horas conectada, com índices inferiores apenas a África do Sul (diferença de poucos minutos). Para os negócios, essa taxa de engajamento até pode ser positiva, afinal, mais oportunidades de vendas e de aumentar a produtividade.
No entanto, a superexposição implica em diversas consequências negativas para a saúde física, mental e emocional, sobretudo de crianças e jovens. Como estão em um processo de desenvolvimento, eles ficam muito mais vulneráveis à dependência que as telas podem provocar. Entre os sintomas estão ansiedade, depressão, irritabilidade, isolamento e distanciamento da vida real e das relações familiares.
Um estudo divulgado neste ano pela revista científica PLOS Mental Health, da  University College London (UCL), apontou que adolescentes viciados em internet passam por alterações cerebrais que podem afetar para sempre seu comportamento. As análises foram feitas com base em 12 artigos envolvendo 237 jovens, de 10 a 19 anos, com diagnóstico formal de dependência de internet entre 2013 e 2023.
Aliás, o vício na internet é um problema crescente em todo o mundo, principalmente diante do maior acesso a smartphones e outros dispositivos eletrônicos. Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG, apontou que o uso excessivo das telas piora a saúde mental independente da idade. Nos idosos, foi constatada a presença da nomofobia, que é o medo de ficar longe do celular.
Nas crianças, houve aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas. A participação nas redes sociais também foi responsável por aumentar o risco de depressão, principalmente em meninas. O mesmo aconteceu em idosos que consomem conteúdos violentos na televisão. Outra observação é a diminuição do Quociente de Inteligência (QI) no público que se expõe exageradamente.
 O que fazer? Uma das medidas é justamente limitar o uso diário das telas. Paralelamente, teríamos que promover uma rotina com experiências “reais” que deem sentido às nossas vidas, como praticar esportes, brincar, ler, caminhar e fazer programações de lazer com família e amigos, ou seja, cultivar conexões reais. É fundamental que possamos nos afastar do celular, desacelerar a mente e reaprender a desfrutar o momento, ainda que isso signifique sentir uma dose extra do mais puro tédio.
Aliás, segundo os neurocientistas, o tédio, pode aumentar muito a nossa criatividade, nosso comprometimento com as tarefas diárias e a produtividade no trabalho. Como o cérebro humano trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana, mesmo quando estamos dormindo ele continua ativo, nunca descansa, nem tira férias, incluir esses “momentos de tédio” são importantes para promover a saúde física e mental.
Na Itália, a população valoriza tanto essas pausas que adotou a expressão “il dolce far niente” (a doçura de não fazer nada), que significa o prazer de ficar sem fazer. Não se trata de fazer uma siesta, mas sim de deixar de lado a rotina agitada do dia a dia para se dedicar à introspecção, ao relaxamento e à consciência de desfrutar o momento presente (carpe diem!) como parte essencial da vida.
Quero destacar que ao fazer uso das telas em busca de alívio do tédio, somos frequentemente expostos a conteúdos superficiais e de curta duração, que não satisfazem nossas necessidades emocionais e cognitivas de maneira significativa. Como resultado, o tédio retorna rapidamente, impulsionando um ciclo vicioso em que a pessoa busca ainda mais tempo nas telas para preencher esse vazio, sem sucesso.
Esse ciclo afeta negativamente a saúde mental, criando um terreno fértil para desenvolver ou agravar a depressão ao intensificar alguns fatores, como isolamento e desconexão social; reforço de pensamentos negativos, falta de propósito e apatia, impacto no sono e na saúde física. Para romper com tudo isso, é fundamental entender o tédio como uma oportunidade para a introspecção e o autoconhecimento.
Setembro Amarelo é um período de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, cuja taxa entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil, entre 2011 e 2022, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Entre os inúmeros fatores que podem desencadear ou agravar a depressão está justamente o uso excessivo de telas. Vale a pena repensar se realmente estar “super conectado” digitalmente não tem sido apenas uma fuga do que é essencial, que é viver uma vida com propósito e conexões reais. Pense nisso!
Cristiane Amaral, psicóloga com formação em transtorno de ansiedade e depressão no Instituto Albert Einstein.
COMENTE ABAIXO:
Propaganda

Opinião

Consciência encarnada: o corpo que sente e sabe

A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento

Publicados

em

Foto: Assessoria/Reprodução

A consciência não é vapor etéreo nem labareda trancada atrás da testa. Não é sopro metafísico preso a uma ideia. A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento. É carne que sente, é sangue que corre com pressa, é pulmão que se enche de mundo. Somos consciência porque somos carne que pulsa, pele que pressente, vísceras que reagem ao que as palavras não conseguem nomear. Cada sensação é um esboço de saber. Cada calafrio, uma forma de inteligência em ato.

A consciência não mora só na mente. Ela dança nas mãos que tocam o outro, se acende na pele que se arrepia, se esconde no estômago que revira diante do medo. A consciência é matéria sensível: pulsa no que há de mais sutil — e mais bruto — em nós.

Por séculos, fomos ensinados a separar o pensamento da carne, como se fosse possível flutuar acima da nossa própria biologia. Mas a ciência e a sensibilidade — quando caminham juntas — desmentem esse corte. O cérebro não pensa sozinho: ele conversa com o coração, com a pele, com os intestinos. Ele só é mente porque é corpo inteiro. Somos um campo de forças, um feixe de reações entre o que sentimos por dentro e o que o mundo nos impõe por fora.

Sentir dor não é apenas disparo neurológico — é a consciência gritando em forma de músculo. Um insight não é raio que cai do céu — é sintonia entre respiração e pensamento. O corpo é um oráculo antigo: pressente antes que a mente formule, reage antes que o juízo chegue. Ele carrega a memória dos silêncios e o eco do que um dia foi vivido.

Por isso, falar de consciência é falar do corpo que sonha e sofre, do gesto que escapa, do arrepio que antecipa. É falar de sangue e sombra, de suor e silêncio, de tudo aquilo que nos atravessa antes da linguagem.

Redescobrir a consciência encarnada é um gesto de reintegração. É dar à carne o que foi tomado pela abstração. É reencantar o corpo com o direito de sentir e o dever de saber. Pensar, afinal, é também transpirar, mastigar, andar, cochilar, hesitar. Somos seres pensantes porque somos seres que tremem, que tocam, que temem, que amam.

A consciência não é uma torre de marfim flutuando acima da vida. Ela é a própria vida — quando habitada por dentro.

*Luiz Hugo Queiroz é jornalista, especialista em Marketing Político, estudioso em Inteligência Artificial e amante da cultura, o levando a dirigir a maior mostra de arquitetura, arte, design, interiores e paisagismo das américas em Mato Grosso, a CASACOR.

COMENTE ABAIXO:
Continue lendo

POLÍTICA

POLÍCIA

ESPORTE

ENTRETENIMENTO

MAIS LIDAS DA SEMANA