Opinião
Reconhecer a fome no Brasil é melhor que negá-la
Opinião
Por Francisco Menezes
“O Brasil, junto com os demais países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), foi signatário, em 2015, do acordo que estabelece os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Neste acordo, assumimos o compromisso de, até 2030, erradicarmos a fome em nosso território. Vínhamos de uma trajetória exitosa, visto que em 2014 a própria ONU reconheceu que nosso país saíra do Mapa da Fome Mundial, baseada nos indicadores que ela utiliza para essa classificação. O país avançara muito, mas ainda faltava fazer mais para garantir esse direito fundamental a todos os que vivem aqui.
Assim, soa imprópria a afirmação do presidente da República de que não há fome no Brasil. Pior do que isso: deixa transparecer desinformação sobre a situação do país que governa e desrespeito com uma parte da população que luta de todas as formas para sobreviver. Ainda mais quando consideramos os quatro últimos anos, em que, a partir dos próprios dados oficiais, observa-se o acelerado crescimento da extrema pobreza, resultante da forma como se enfrenta a atual crise econômica, com o repasse para os mais pobres do pagamento do ônus de uma situação que não criaram.Extrema pobreza redunda inevitavelmente em fome. Mas, paradoxalmente, assiste-se ao desmonte de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, algumas delas premiadas e tomadas como referências em outros países e que vêm sendo descontinuadas ou tendo suas dotações orçamentárias acentuadamente reduzidas. Na mesma linha, o atual governo extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão que reunia sociedade e governo para construção e monitoramento desta política nacional.”
Opinião
Mulheres decidem eleições, mas minoria chega ao poder
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência
Neste 3 de novembro de 2025, o Brasil celebra os 95 anos da aprovação, pelo Senado, do projeto que instituiu o voto feminino no Brasil. Essa conquista histórica rompeu uma das mais profundas barreiras da vida pública brasileira, a que mantinha metade da população afastada das decisões políticas.Passados 95 anos, porém, persiste a pergunta que atravessa gerações: essa vitória se traduziu, de fato, em igualdade nos espaços de poder?
Como presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, me deparo com uma realidade preocupante: nossa Casa conta com apenas uma deputada estadual, Janaína Riva. No Congresso Nacional, temos igualmente uma única representante do Estado, Gisela Simona, suplente que assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados.
Apenas duas mulheres, em um Estado onde representam a maioria da população e do eleitorado.
O retrocesso se acentua. As eleições de 2024 revelam dados preocupantes: apenas 13 mulheres foram eleitas prefeitas em Mato Grosso, o que representa 9,22% dos 142 municípios do Estado. Em 2020, haviam sido eleitas 15. Das 13 atuais, nove foram reeleitas — ou seja, apenas quatro novas mulheres chegaram ao comando do Executivo municipal.
Enquanto o Brasil avança na direção da equidade de gênero na política, Mato Grosso segue na contramão. Nacionalmente, o número de prefeitas eleitas passou de 656, em 2020, para 724, em 2024.
No Estado, apenas 13 municípios elegeram mulheres para o cargo de prefeita: Alto Taquari, Aripuanã, Barra do Bugres, Barão de Melgaço, Cáceres, Glória d’Oeste, Jaciara, Nova Maringá, Pedra Preta, Ribeirão Cascalheira, Santa Cruz do Xingu, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.
Esses dados não são meramente estatísticos — são o retrato de uma democracia que ainda exclui.
As mulheres mobilizam comunidades, decidem eleições, constroem bases políticas. Mas, quando chega a hora de ocupar cadeiras de poder, as portas permanecem fechadas. A presença feminina nos parlamentos ainda parece mais exceção do que regra.
As barreiras são conhecidas: financiamento que privilegia homens, estruturas partidárias dominadas por lideranças masculinas, machismo que questiona a competência das candidatas, dupla jornada e violência política de gênero. Tudo isso afasta as mulheres da política institucional.
Como homem em posição de poder, como presidente da Assembleia Legislativa, pai, marido, filho e avó, faço uma reflexão necessária: estamos abrindo portas ou apenas cumprindo protocolos?
Mulheres não podem ser tratadas como cotas a preencher ou escadas para angariar votos. Essa lógica perversa desrespeita sua capacidade, inteligência e competência para administrar. As mulheres trazem uma sensibilidade única para lidar com políticas públicas voltadas aos menos favorecidos e isso não é fraqueza, é força que transforma realidades.
Sei o quanto é fundamental o papel da mulher em todas as áreas onde ela quiser atuar. Não por concessão, mas por direito e por mérito.
A sub-representação feminina em Mato Grosso não é culpa das mulheres mato-grossenses. É resultado de um sistema que impõe obstáculos onde deveria construir caminhos e oportunidades.
Bertha Lutz não lutou pelo voto feminino para que, 95 anos depois, as mulheres continuassem sendo exceção nos parlamentos. Ela lutou por igualdade real, participação efetiva e poder compartilhado.
A conquista do voto foi um passo fundamental, mas ainda incompleto. Hoje, precisamos avançar para a igualdade salarial plena, mulheres recebendo o mesmo que homens em todas as esferas, seja na vida pública ou na iniciativa privada. Competência não tem gênero. Salário também não deveria ter.
Precisamos admitir, a democracia brasileira continua incompleta. E a mato-grossense, mais ainda. Permanecerá assim enquanto metade da população estiver sub-representada.
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência.
Max Russi, deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso
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