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Faz 143 Anos que foi inaugurada a primeira balsa ligando Cuiabá a Várzea Grande

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Por: Wilson Pires

 

Constituía um sonho para os moradores situados às margens do Rio Cuiabá que dessem início, o quanto antes, ao funcionamento de uma balsa ligando a capital Cuiabá a Várzea Grande e todos os municípios localizados à direita do rio, o que sem nenhuma dúvida seria fator de maior desenvolvimento para todos.
Dia 4 de junho de 1874, em festa, com a presença de parte da população cuiabana, com bandeirolas, foguetes, girândolas e roqueiras (antigos canhões de ferro cujos projéteis eram pedras) e sob os acordes instrumentais da Banda de Música do Arsenal de Guerra, a primeira “balsa” foi inaugurada. 
Após as solenidades de inauguração, em pleno Império, a balsa cruzou o rio, superlotada, pois todos queriam participar dessa travessia inaugural, realizada da margem esquerda para a direita.
A balsa permitiu maiores volumes de transportes de mercadorias de Várzea Grande, Livramento, Poconé e de todo Norte para a capital mato-grossense. E a balsa fez história.
O primeiro balseiro foi Luiz Monteiro de Aguiar, descendente de bandeirante de Nossa Senhora do Livramento, que adquiriu um casco de ferro em 1870, e sobre ele mandou construir a balsa. 
Mais tarde transferiu os direitos adquiridos por Lei ao Estado, que passou a arrendá-la a diversos.
Em 1888, a balsa encontrava-se em mãos de Virgílio Carneiro Leão, com o porto situado na atual Rua Maria Metelo, Bairro da Alameda, nas proximidades da casa do senhor Licínio Monteiro da Silva. Por 18 anos a barca pêndula permaneceu com ele, a fim de que melhorasse seus acessórios: cabos e bóias.
Ao final do século XIX, Joaquim Polido SEABRA adquiriu o arrendamento da balsa, passando mais tarde para a direção do senhor Francisco Cláudio.
Por muito tempo esteve como arrendatário da balsa, Sebastião Teodorico, que ficou até o final do século. Depois dessa administração, a balsa passou para o domínio de Antonio de Arruda Pinto, conhecido como Totó Bichinho, que a colocou sob a direção de Delfino Monteiro de Aguiar, filho do primeiro proprietário. Já em 1918, achava-se nas mãos do arrendatário Francisco de Arruda Pinto, por cinco anos.

 

PONTO DE ENCONTRO
Em 1924, sob administração direta de Benedito Leite de Figueiredo, o Didito, que estava sempre de gravata e paletó, posto ao leme de quem ouvia as suas gostosas piadas ou palestras, quando se via na presença de pessoas graduadas. Foi o último arrendatário subvencionado pelo Estado, que a remodelou, mudando o sistema de bóias para o de cabo movido a carretilha.
A moderníssima barca-pêndula veio com bancos para passageiros e havia um lugar aberto destinado às carroças e animais. Era um verdadeiro ponto de encontro entre amigos e conhecidos, sob os olhos atentos do senhor Didito. As conversas eram mantidas em clima de camaradagem, respeito e alegria. O fundo da balsa (barca) era feito de tubos enormes. Na hora de aportar, devido ao lugar raso, as zingas empurravam a balsa até o local ideal para o desembarque de passageiros.
Às 6 horas da manhã saía à primeira balsa de Várzea Grande a Cuiabá, às 18 horas era a última viagem. Aos sábados, quando havia festa em Várzea Grande, os canoeiros se alegravam com a arrecadação extra após a última viagem da “barca-pêndula”, pois só havia jeito de recorrer aos eficientes canoeiros.

 

IMPREVISTO
Um caso bem raro sucedeu em certa ocasião, quando a barca com excesso de lotação aproximava-se do porto do lado de Várzea Grande e a pressa em que se colocaram em posição de desembarque, muitos os que ocupavam aquele serviço de transportes, provocaram desequilíbrio e a embarcação pendeu de um lado e virou. No momento causou pânico, principalmente entre as mulheres.
A surpresa levou muita gente às águas do rio Cuiabá, felizmente o local era raso, não houve conseqüência negativa, a não ser o susto e depois muito riso.
Durante as grandes enchentes, algumas vezes as enxurradas forçavam o pêndulo da balsa e causava surpresas aos ocupantes, descendo o rio Cuiabá, levada pela correnteza furiosa, mas não muito além da “boca do valo”, pois era logo manobrada para uma das margens e, com sacrifício, aportada no devido lugar.
Graças ao aparecimento da balsa, Várzea Grande pôde abastecer melhor Cuiabá de leite, carne, lenha, chinelos e dos cereais vindos de Livramento, que eram revendidos nas carroças-mascates pela gente humilde do município.
Morosamente, mas acompanhando o ritmo lento daqueles tempos, a balsa durou até o início de novos transportes em nosso Estado. Os caminhões começaram a trafegar com intensidade, quando em 1935 os governos viram que a balsa já era um entrave ao desenvolvimento do Norte, devido à morosidade e as poucas toneladas que comportava.
A balsa parou de circular, mas deixou saudades a muita gente.
Didito Figueiredo foi o último arrendatário da balsa, pois, quando estava à frente desse negócio, inaugurava-se a ponte Júlio Muller, em 20 de janeiro de 1942.

 

Wilson Pires de Andrade é jornalista em Mato Grosso.

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Consciência encarnada: o corpo que sente e sabe

A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento

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Foto: Assessoria/Reprodução

A consciência não é vapor etéreo nem labareda trancada atrás da testa. Não é sopro metafísico preso a uma ideia. A consciência é corpo — corpo vivo, suado, atento. É carne que sente, é sangue que corre com pressa, é pulmão que se enche de mundo. Somos consciência porque somos carne que pulsa, pele que pressente, vísceras que reagem ao que as palavras não conseguem nomear. Cada sensação é um esboço de saber. Cada calafrio, uma forma de inteligência em ato.

A consciência não mora só na mente. Ela dança nas mãos que tocam o outro, se acende na pele que se arrepia, se esconde no estômago que revira diante do medo. A consciência é matéria sensível: pulsa no que há de mais sutil — e mais bruto — em nós.

Por séculos, fomos ensinados a separar o pensamento da carne, como se fosse possível flutuar acima da nossa própria biologia. Mas a ciência e a sensibilidade — quando caminham juntas — desmentem esse corte. O cérebro não pensa sozinho: ele conversa com o coração, com a pele, com os intestinos. Ele só é mente porque é corpo inteiro. Somos um campo de forças, um feixe de reações entre o que sentimos por dentro e o que o mundo nos impõe por fora.

Sentir dor não é apenas disparo neurológico — é a consciência gritando em forma de músculo. Um insight não é raio que cai do céu — é sintonia entre respiração e pensamento. O corpo é um oráculo antigo: pressente antes que a mente formule, reage antes que o juízo chegue. Ele carrega a memória dos silêncios e o eco do que um dia foi vivido.

Por isso, falar de consciência é falar do corpo que sonha e sofre, do gesto que escapa, do arrepio que antecipa. É falar de sangue e sombra, de suor e silêncio, de tudo aquilo que nos atravessa antes da linguagem.

Redescobrir a consciência encarnada é um gesto de reintegração. É dar à carne o que foi tomado pela abstração. É reencantar o corpo com o direito de sentir e o dever de saber. Pensar, afinal, é também transpirar, mastigar, andar, cochilar, hesitar. Somos seres pensantes porque somos seres que tremem, que tocam, que temem, que amam.

A consciência não é uma torre de marfim flutuando acima da vida. Ela é a própria vida — quando habitada por dentro.

*Luiz Hugo Queiroz é jornalista, especialista em Marketing Político, estudioso em Inteligência Artificial e amante da cultura, o levando a dirigir a maior mostra de arquitetura, arte, design, interiores e paisagismo das américas em Mato Grosso, a CASACOR.

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