ARTIGO
“Em terra de cego, quem tem um real é quase nada…”
“Pois bem: nessas pausas entre novelas e mercados, posso cravar o seguinte: Jeremias tinha razão! Esmola pouca é troco de pinga, Joel também tem razão, um real não dá pra nada!”
Opinião
O pessoal da faixa dos 50 vai se lembrar de um personagem icônico vivido por Arnaud Rodrigues na novela “Roque Santeiro”.
Arnaud dava vida ao “Cego Jeremias”, que vivia de esmolas e não tinha nada de cego, ao contrário, estava atento a tudo que acontecia, dava “pitacos” e ainda reclamava do valor da espórtula, ao ponto de exclamar: “Deus lhe dê em triplo, porque o dobro não dá pra nada!”
Bem, fazendo uma ligeira e desproporcional analogia com a realidade, aqui em Cuiabá temos um personagem do cotidiano que também conhece muito bem a rotina da cidade, falo do simpático “Joel Um Real”, conhecido “flanelinha” que ganhou o carinhoso apelido por motivos óbvios, ele cuida (ou cuidava) dos carros estacionados ao longo da avenida Historiador Rubens de Mendonça por apenas um real, mas isso foi antes dos severos efeitos inflacionários, porque agora é “Joel Um Dólar!”
Tais efeitos, que puderam ser percebidos pelo Jeremias e pelo Joel, também podem ser percebidos por qualquer trabalhador, principalmente quando vai às compras!
Eu, por exemplo, percebi que não existe mais quase nada que custe um real ou menos, caí na besteira de converter os preços para saber o valor da unidade, e querem saber? Um limão custa mais de um real, uma cenoura custa mais de um real, uma beterraba também, acho que só o ovo ainda custa um pouco menos, mas não pode ser da casca vermelha!
Pois bem: nessas pausas entre novelas e mercados, posso cravar o seguinte: Jeremias tinha razão! Esmola pouca é troco de pinga, Joel também tem razão, um real não dá pra nada!
E o salário?
– O salário, ó…
(Fred Henrique Gadonski)

Advogado Fred Henrique Gadonski
Arquivo Pessoal
Opinião
Mulheres decidem eleições, mas minoria chega ao poder
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência
Neste 3 de novembro de 2025, o Brasil celebra os 95 anos da aprovação, pelo Senado, do projeto que instituiu o voto feminino no Brasil. Essa conquista histórica rompeu uma das mais profundas barreiras da vida pública brasileira, a que mantinha metade da população afastada das decisões políticas.Passados 95 anos, porém, persiste a pergunta que atravessa gerações: essa vitória se traduziu, de fato, em igualdade nos espaços de poder?
Como presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, me deparo com uma realidade preocupante: nossa Casa conta com apenas uma deputada estadual, Janaína Riva. No Congresso Nacional, temos igualmente uma única representante do Estado, Gisela Simona, suplente que assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados.
Apenas duas mulheres, em um Estado onde representam a maioria da população e do eleitorado.
O retrocesso se acentua. As eleições de 2024 revelam dados preocupantes: apenas 13 mulheres foram eleitas prefeitas em Mato Grosso, o que representa 9,22% dos 142 municípios do Estado. Em 2020, haviam sido eleitas 15. Das 13 atuais, nove foram reeleitas — ou seja, apenas quatro novas mulheres chegaram ao comando do Executivo municipal.
Enquanto o Brasil avança na direção da equidade de gênero na política, Mato Grosso segue na contramão. Nacionalmente, o número de prefeitas eleitas passou de 656, em 2020, para 724, em 2024.
No Estado, apenas 13 municípios elegeram mulheres para o cargo de prefeita: Alto Taquari, Aripuanã, Barra do Bugres, Barão de Melgaço, Cáceres, Glória d’Oeste, Jaciara, Nova Maringá, Pedra Preta, Ribeirão Cascalheira, Santa Cruz do Xingu, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.
Esses dados não são meramente estatísticos — são o retrato de uma democracia que ainda exclui.
As mulheres mobilizam comunidades, decidem eleições, constroem bases políticas. Mas, quando chega a hora de ocupar cadeiras de poder, as portas permanecem fechadas. A presença feminina nos parlamentos ainda parece mais exceção do que regra.
As barreiras são conhecidas: financiamento que privilegia homens, estruturas partidárias dominadas por lideranças masculinas, machismo que questiona a competência das candidatas, dupla jornada e violência política de gênero. Tudo isso afasta as mulheres da política institucional.
Como homem em posição de poder, como presidente da Assembleia Legislativa, pai, marido, filho e avó, faço uma reflexão necessária: estamos abrindo portas ou apenas cumprindo protocolos?
Mulheres não podem ser tratadas como cotas a preencher ou escadas para angariar votos. Essa lógica perversa desrespeita sua capacidade, inteligência e competência para administrar. As mulheres trazem uma sensibilidade única para lidar com políticas públicas voltadas aos menos favorecidos e isso não é fraqueza, é força que transforma realidades.
Sei o quanto é fundamental o papel da mulher em todas as áreas onde ela quiser atuar. Não por concessão, mas por direito e por mérito.
A sub-representação feminina em Mato Grosso não é culpa das mulheres mato-grossenses. É resultado de um sistema que impõe obstáculos onde deveria construir caminhos e oportunidades.
Bertha Lutz não lutou pelo voto feminino para que, 95 anos depois, as mulheres continuassem sendo exceção nos parlamentos. Ela lutou por igualdade real, participação efetiva e poder compartilhado.
A conquista do voto foi um passo fundamental, mas ainda incompleto. Hoje, precisamos avançar para a igualdade salarial plena, mulheres recebendo o mesmo que homens em todas as esferas, seja na vida pública ou na iniciativa privada. Competência não tem gênero. Salário também não deveria ter.
Precisamos admitir, a democracia brasileira continua incompleta. E a mato-grossense, mais ainda. Permanecerá assim enquanto metade da população estiver sub-representada.
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência.
Max Russi, deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso
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