Opinião
De esquife
Opinião
As marcas da Operação Carne Fraca ficarão marcadas por bastante tempo em nossa economia.
Uma dupla discute como dizer a um filho cardíaco que sua mãe morreu. Chega um terceiro e assume a responsabilidade pela informação. Esse vai ao órfão e o desafia: – você tem mãe? O outro responde: – tenho! Ele rebate: – quer apostar? A família enlutada providenciou os dois sepultamentos.
Por analogia foi isso o que aconteceu com a pecuária brasileira quando do balanço preliminar da Operação Carne Fraca.
O Brasil reconhece, respeita e valoriza o profissionalismo da Polícia Federal (PF), que é imprescindível na desarticulação do crime de colarinho branco que permeia os poderes, o sindicalismo e o empresariado.
Compartilho esse sentimento, mas nem por isso deixo de lamentar sua mancada no episódio de Carne Fraca, que causou e por muito tempo permanecerá causando prejuízo à economia brasileira, com reflexos também na área social.
Aprovo a investigação e defendo seu aprofundamento. Aparentemente Mato Grosso não é alvo da operação, mas seu setor frigorífico permaneceu por décadas sob uma densa nuvem. Sobre ele dizia-se à meia-boca que havia um universo sombrio de sonegação com blindagem política e conivência da fiscalização. Isso, sem que ninguém abrisse a boca.
O silêncio era tamanho, que até a CPI instalada em 2000 pela Assembleia para investigar o caso e suposta ligação de empresários do setor com o crime organizado morreu no nascedouro.
A forma de dar nomes aos bois foi precipitada. Nos continentes a fala da PF acendeu todas as luzes da oportunidade ao mercado exportador aguçando a competitividade de importante nicho da economia mundial. O Brasil foi atingido nos dois pratos da balança comercial, já que o peso da seriedade da instituição denunciante e a suposta gravidade dos fatos deixaram importadores com o pé atrás.
O governo demonstra habilidade tentando convencer seus parceiros comerciais, mas nem por isso manterá o mercado anterior ao anúncio, e de imediato não conquistará novos. Nossa concorrência vibra com o horizonte comercial que involuntariamente a PF lhe jogou no colo.
Acompanho a luta mato-grossense pela engrenagem do mercado da carne, conquistada dente a dente com vitória e revezes por injustas barreiras sanitárias. Mesmo fora do epicentro das investigações Mato Grosso paga alto preço por erros pontuais de empresários, fiscais e políticos. Dinheiro perdido é igual córrego: depois que passa não volta mais.
Sem prejuízo do reconhecimento, da valorização e do respeito que merece, a PF não pode ser ilha no contexto institucional. Ela é peça do Ministério da Justiça e em operações com reflexos na economia e no campo social não pode apresentar ao público seu entendimento do caso dando ao mesmo tratamento exclusivamente policial. Há circunstâncias em que a habilidade tem que ser a única voz sob pena de se botar elefante em loja de cristais. Em meio a grave crise que debilita o Brasil o açodamento da notícia botou o cadáver do filho ao lado do esquife de sua mãe. Oremos por ambos.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Cuiabá
Opinião
Mulheres decidem eleições, mas minoria chega ao poder
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência
Neste 3 de novembro de 2025, o Brasil celebra os 95 anos da aprovação, pelo Senado, do projeto que instituiu o voto feminino no Brasil. Essa conquista histórica rompeu uma das mais profundas barreiras da vida pública brasileira, a que mantinha metade da população afastada das decisões políticas.Passados 95 anos, porém, persiste a pergunta que atravessa gerações: essa vitória se traduziu, de fato, em igualdade nos espaços de poder?
Como presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, me deparo com uma realidade preocupante: nossa Casa conta com apenas uma deputada estadual, Janaína Riva. No Congresso Nacional, temos igualmente uma única representante do Estado, Gisela Simona, suplente que assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados.
Apenas duas mulheres, em um Estado onde representam a maioria da população e do eleitorado.
O retrocesso se acentua. As eleições de 2024 revelam dados preocupantes: apenas 13 mulheres foram eleitas prefeitas em Mato Grosso, o que representa 9,22% dos 142 municípios do Estado. Em 2020, haviam sido eleitas 15. Das 13 atuais, nove foram reeleitas — ou seja, apenas quatro novas mulheres chegaram ao comando do Executivo municipal.
Enquanto o Brasil avança na direção da equidade de gênero na política, Mato Grosso segue na contramão. Nacionalmente, o número de prefeitas eleitas passou de 656, em 2020, para 724, em 2024.
No Estado, apenas 13 municípios elegeram mulheres para o cargo de prefeita: Alto Taquari, Aripuanã, Barra do Bugres, Barão de Melgaço, Cáceres, Glória d’Oeste, Jaciara, Nova Maringá, Pedra Preta, Ribeirão Cascalheira, Santa Cruz do Xingu, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.
Esses dados não são meramente estatísticos — são o retrato de uma democracia que ainda exclui.
As mulheres mobilizam comunidades, decidem eleições, constroem bases políticas. Mas, quando chega a hora de ocupar cadeiras de poder, as portas permanecem fechadas. A presença feminina nos parlamentos ainda parece mais exceção do que regra.
As barreiras são conhecidas: financiamento que privilegia homens, estruturas partidárias dominadas por lideranças masculinas, machismo que questiona a competência das candidatas, dupla jornada e violência política de gênero. Tudo isso afasta as mulheres da política institucional.
Como homem em posição de poder, como presidente da Assembleia Legislativa, pai, marido, filho e avó, faço uma reflexão necessária: estamos abrindo portas ou apenas cumprindo protocolos?
Mulheres não podem ser tratadas como cotas a preencher ou escadas para angariar votos. Essa lógica perversa desrespeita sua capacidade, inteligência e competência para administrar. As mulheres trazem uma sensibilidade única para lidar com políticas públicas voltadas aos menos favorecidos e isso não é fraqueza, é força que transforma realidades.
Sei o quanto é fundamental o papel da mulher em todas as áreas onde ela quiser atuar. Não por concessão, mas por direito e por mérito.
A sub-representação feminina em Mato Grosso não é culpa das mulheres mato-grossenses. É resultado de um sistema que impõe obstáculos onde deveria construir caminhos e oportunidades.
Bertha Lutz não lutou pelo voto feminino para que, 95 anos depois, as mulheres continuassem sendo exceção nos parlamentos. Ela lutou por igualdade real, participação efetiva e poder compartilhado.
A conquista do voto foi um passo fundamental, mas ainda incompleto. Hoje, precisamos avançar para a igualdade salarial plena, mulheres recebendo o mesmo que homens em todas as esferas, seja na vida pública ou na iniciativa privada. Competência não tem gênero. Salário também não deveria ter.
Precisamos admitir, a democracia brasileira continua incompleta. E a mato-grossense, mais ainda. Permanecerá assim enquanto metade da população estiver sub-representada.
O direito ao voto foi o primeiro passo. Noventa e cinco anos depois, o caminho segue longo e precisa ser percorrido com urgência.
Max Russi, deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso
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