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A mistura cultural que compõe Mato Grosso
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No estado que já registrou touradas portuguesas, novas influências culturais dividem espaço com festejos tradicionais e, juntos, unem os mato-grossenses
Da Redação
Cuiabá, junho de 1924. Os festejos ao Senhor Divino se aproximavam do fim, depois de dias intensos de comemorações ao Espírito Santo. Para o encerramento, o grande espetáculo estava por começar: a última tourada do Divino. No Campo D’Ourique, os camarotes estavam montados e a população chegava aos montes. Os melhores lugares, claro, restritos aos mais importantes – e ricos – da cidade. Ao redor da cerca, os populares se aglomeravam, tentando conseguir o “melhor” ângulo para o grande show.
“Em que pese a clara segregação das classes nos espaços da tourada, esta era uma diversão em que toda a sociedade comparecia, não ficando ninguém de fora”, relata a pesquisadora Marisa Camargo na pesquisa “A touromaquia cuiabana: festa, barbárie e tradição”.
Juntamente com festejos religiosos, a tourada era um momento de socializar, encontrar os amigos, sair da rotina da cidade. A população aguardava ansiosa e, para esse momento, reservava os melhores vestidos, ternos, camisas e sapatos.
Na arena, os bois estavam no “curro” (local destinado aos animais), prontos para a batalha. O toureiro – muito bem vestido – se apresentava com sua lança e seu cavalo, bem como o auxiliar, conhecido como “jacuba”. Em maior número, os chamados “capinhas” também aguardavam o momento certo para começar a distrair (e irritar) os animais, assim como os máscaras, responsáveis pelas “palhaçadas”. Casa cheia, tudo pronto. Começava o espetáculo.
Trazida pelos portugueses, a tourada foi incorporada pelos mato-grossenses, principalmente de Cuiabá e Cáceres, conforme registros de Giuslane Francisca da Silva, que pesquisou essa prática entre os cacerenses. Mas aos poucos passou a ser questionada por grupos da sociedade e o que antes era tido como um momento de distração e sociabilidade, inclusive, associado à religiosidade de um povo, passou a ser visto como algo bárbaro.
A partir de 1934, já não era mais permitida a realização de touradas. Presidente à época, Getúlio Vargas decretou a proibição de qualquer evento que houvesse maus tratos aos animais. “O Brasil tentava se modernizar e para isso era necessário deixar para trás algumas práticas”, conta a historiadora Maria Auxiliadora de Freitas. Assim, as touradas se resumem hoje a páginas de livros e fotografias. Algumas delas compõem o acervo do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Desde então, novos eventos festivos e manifestações culturais entraram para o calendário cultural dos mato-grossenses. Outros são preservados por grupos culturais do estado, como é o caso da Cavalhada. Apesar de ter surgido em Mato Grosso no século XVIII, a Cavalhada ainda é realizada em Poconé no mesmo período em que aconteciam as touradas, juntamente com os Mascarados, que dançam com suas roupas coloridas e máscaras artesanais.
Já no Vale do Guaporé, principalmente em Vila Bela da Santíssima Trindade, a Dança do Congo e o Chorado ainda vivem. Este último é “uma forma de súplica dos negros aos senhores, para que os perdoassem dos castigos prometidos aos escravos transgressores”, conforme relata o autor Roberto Loureiro, no livro “Cultura mato-grossense”. No Chorado, as mulheres dançam com vestidos coloridos e uma garrafa equilibrada na cabeça, ao som de músicas de raízes africanas.
No Congo, a dança é a dramatização da luta simbólica entre dois reinados africanos. Conforme nos explica Loureiro, “no reinado do Congo os personagens representados são: o Rei, Secretário de Guerra e o Príncipe. No reinado adversário, Bamba, estão o Embaixador do Rei e doze pares de soldados”, os quais tocam ganzá, viola, cavaquinho, chocalho e bumbo.
Influências
Quando o assunto é quadrilhas juninas, o Vale do Araguaia está para Mato Grosso assim como Campina Grande está para o estado da Paraíba. Sim, em território mato-grossense esses festejos ganham cada vez mais espaço. Há 15 anos, ao se aproximar do mês de junho, a região do Araguaia mato-grossense se enche de alegria, cor, brilho, música e muita dança.
O Festival de Quadrilhas do Vale do Araguaia é um dos eventos mais esperados pela população e já faz parte do calendário cultural da região. Realizada pela Federação Mato-grossense de Quadrilhas, a festa mantém viva uma tradição enraizada nas comunidades locais. Os grupos investem pesado em figurino, coreografia, roteiro e técnica. Este ano, as etapas classificatórias começam em Rondonópolis, nos dias 27 e 28 de maio, e a final será em General Carneiro, de 23 a 25 de junho.
Já nas cidades com forte presença de migrantes da região Sul do Brasil, o destaque são as festas realizadas nos centros de tradição gaúcha, os chamados CTGs. A incorporação dos costumes e das manifestações artísticas típicas do Rio Grande do Sul se deu a partir da década de 1960, quando começaram a chegar os primeiros migrantes sulistas, movimento incentivado, à época, pelo Governo Federal.
Nos eventos típicos realizados nos CTGs, o que se vê é churrasco, chimarrão, bombacha, bota, vestidos de prenda, rodeio crioulo, tudo ao som de muita música gaúcha. Cada centro conta com equipes de dança, canto e montaria, que se preparam ao longo do ano para participar das etapas classificatórias e eliminatórias do Festival Nacional de Arte e Tradição Gaúcha (Fenart).
Mais espaços de cultura
Novos espaços para manifestações culturais foram criados nos últimos anos em Mato Grosso. Na região metropolitana, por exemplo, o Vem Pra Arena entrou para o calendário cultural do estado como um espaço que promove o acesso a diferentes tipos de arte. Desde a primeira edição, em maio de 2015, o evento reúne no entorno da Arena Pantanal, em Cuiabá, artistas nacionais e regionais com uma programação gratuita.
Um dos principais projetos da Secretaria de Estado de Cultura (SEC-MT), o evento é também promove acesso ao lazer, fomento à cadeia produtiva da cultura, geração de emprego e renda. Cada uma das nove edições do Vem Pra Arena recebeu, em média, 30 mil pessoas.
No interior do estado, foram criados espaços itinerantes de fomento às manifestações culturais por meio do projeto Circula MT, que está na segunda edição. Na primeira, mais de 100 artistas mato-grossenses desenvolveram ao menos 300 ações culturais em 50 municípios. O projeto alcançou os extremos de Mato Grosso, chegando a aldeias, glebas e quilombos. Os xavante da aldeia Wede’rã, por exemplo, tiveram contato com o teatro pela primeira vez.
Na segunda edição, serão contemplados 34 projetos, divididos em cinco modalidades: música, teatro, dança, circo e artes visuais. De acordo com o edital, os projetos devem apresentar ao menos um espetáculo/exposição em cada município, com um número mínimo de cidades para cada categoria.
Fonte: Gcom-MT

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Partiu hoje um amigo querido: José Arley Lopes
Amigos nunca partem: apenas se desligam temporariamente do nosso convívio…

Imagine alguém sempre bem-humorado, dotado de perspicácia para perceber detalhes que passam ao largo da maioria das pessoas; imagine, na sequência, um sujeito com firme disposição solidária, como se cumprisse plantão permanente, zeloso pelo bem dos amigos e parentes…
Complementem tal busca imaginária ao visualizá-lo colocando apelidos marcantes naqueles com os quais interage cotidianamente. Acréscimo importante.
Mais ainda: transformem o improvável vivente em um ser humano excepcional, preocupado em ir à luta com o intuito de sobreviver dignamente. Imaginaram?
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Pessoas assim existem, sim, por maior que sejam as dúvidas! E uma delas partiu hoje. Trata-se do meu companheiro de longos anos de convívio em Montes Claros-MG, José Arley Lopes.
Há anos, de forma intensiva, José Arley lutava contra um câncer impiedoso, doença originária da próstata.
Após se alastrar pelo corpo do amigo, o câncer conseguiu vencer a longa queda de braço travada entre a vida e a morte, levando Arley a descansar precocemente.
José Arley foi daqueles amigos inesquecíveis, apesar de décadas de desencontro físico. Mas nunca deixou de fazer parte das minhas lembranças dos tempos felizes de MOC. Tantas noites e dias divertidos!
Parece que ainda o vejo andando sorridente pela Praça da Matriz, rumo à antiga casa de dona Ana Lopes. E já chamava os conhecidos por apelidos arquitetados ladinamente…
Tais apelidos – tema que já abordei no FACEBOOK – vão permanecer incólumes. O amigo José Arley possuía o dom de apelidar implacavelmente quem quer que fosse.
Incrível como conseguia escolher nomes improváveis, mas todos pegavam que nem cola bombástica, para desespero das vítimas. A relação é bem extensa em Montes Claros…
Também não escapei de ser apelidado: ao me encontrar nas ruas, antes mesmo do tradicional aperto de mãos, Arley ensaiava gestos de golpes de Kung Fu, alusão ao esporte de karatê que eu praticava na época, idos dos anos 70.
“Iôoo, Iáaa” – gritava alto. Daí, pra ser apelidado de “João Iô”, foi um pulo…
Meu pai também entrou na incessante roda de troca-nome: “Carlão Rapadura”. Meu irmão mais velho, José Antônio, passou a ser “Popotinha”.
Certos apelidos aos parentes eram comentados apenas às escondidas, em função do humor limitado das vítimas.
Enquadra-se nessa lista os saudosos Vicente e Moacir Lopes, tios de J.A, e também sisudas tias. Nem arrisco mencionar seus nomes…
Alguns primos também penam com apelidos emplacados pelo amigo José Arley: é o caso dos irmãos Ricardo (“Jegaço”) e Vinícius Lopes (“Pela Jegue”).
Nem sei exatamente como, o próprio José Arley ganhou apelido estratosférico: “Zé Bucânia”. Suspeito que ele mesmo tenha se apelidado…
José Arley ainda protagonizou passeios memoráveis no Pentáurea Clube, igualmente garantindo almoço grátis no clube campestre e outras mordomias.
Para tanto, fez amizade com garçons e dirigentes do balneário. Até hoje tenho saudades daquela comida deliciosa…
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Enfim, é mais um companheiro que parte, e confesso ser difícil me conformar com isso. Só desejo que continue [no plano celestial] a encantar os novos amigos com seu jeitão irônico e tão simpático: não tenho dúvidas de que o Paraíso é sua próxima parada!
Quanto à Praça Doutor Chaves, a popular Praça da Matriz, por onde José Arley andava costumeiramente, ganhou, a partir de hoje, mais um anjo de luz a perambular pelas suas alamedas…
João Carlos de Queiroz, jornalista
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