A construção de 56 moradias para a comunidade quilombola Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento (MT), financiada com R$ 4,2 milhões do Incra, entrou no centro de uma polêmica. Trabalhadores venezuelanos que atuam na obra relatam atrasos nos pagamentos, alojamento inadequado e falta de equipamentos de segurança.

A reportagem ouviu lideranças da comunidade, representantes políticos e também o responsável pela construtora Gênesis, contratada para executar a obra.

Segundo a professora Gonçalina, militante do movimento quilombola de Mata Cavalo, a associação local repassou o recurso à empresa, mas qualquer vínculo com os trabalhadores seria responsabilidade da contratada:

“A parte da associação foi repassar o recurso para a construtora. Quem contratou os trabalhadores foi ela. Conversamos com a empresa e nos disseram que o pagamento é quinzenal, e ainda está dentro do prazo. Mas a situação nos preocupa”, afirmou.

A construção, que teve início com liberação de 70% dos recursos, já conta com cerca de 30 casas concluídas das 47 previstas na primeira etapa. As outras 17 ainda não foram iniciadas, pois aguardam a vistoria técnica do Incra para liberação da última parcela do recurso (30%).

O vereador Airton, também quilombola e morador da comunidade, acompanha de perto a execução e confirma que há queixas dos trabalhadores.

“Estamos fiscalizando. Houve reclamações de trabalho escravo, mas precisamos apurar com responsabilidade. A construtora informou que o pagamento ocorre de 15 em 15 dias. O último teria sido no dia 30 e o próximo é nesta sexta (13). Já provocamos uma reunião com a empresa para tratar também da falta de equipamentos de segurança”, afirmou.

A denúncia de que venezuelanos estariam trabalhando sem receber e sem condições adequadas levou a reportagem do Jornal O Mato Grosso  ao endereço que consta no CNPJ da empresa Gênesis, localizado na Rua São João Batista, nº 28, bairro São Benedito, em Várzea Grande. No local, não há nenhuma placa de identificação comercial da empresa.

Contatado por telefone, o representante da construtora, Edmar, negou irregularidades. Segundo ele, os pagamentos estão sendo feitos normalmente e os trabalhadores recebem alimentação e apoio.

“Eu pago de 15 em 15 dias. Paguei agora no dia 30, tenho comprovante aqui. Já repassei R$ 2.100 em comida pra eles, não é como aparece em televisão, não. Dou macarrão, mortadela, frango. Eles reclamam de comida, mas é coisa deles. O pagamento agora é sexta-feira. Isso de que está tudo errado é mentira”, afirmou Edmar à reportagem.

Apesar da promessa de encaminhar os comprovantes, até o fechamento desta matéria, na tarde de quinta-feira (12), nenhum documento foi enviado pela empresa.

A situação segue gerando tensões entre trabalhadores e a construtora. Lideranças locais cobram transparência, responsabilidade contratual e garantia de condições dignas de trabalho, enquanto a finalização das moradias permanece em ritmo desacelerado, à espera de nova liberação do Incra.

*Sob supervisão de Daniel Costa